Francisco José de Goya y Lucientes nasceu em 30 de março de 1746, na aldeia de Fuendetodos, em Aragão, Espanha, durante o reinado de Fernando VI. O século XVIII espanhol era um período de transição, marcado pelo fim da dinastia dos Habsburgo e pelo estabelecimento da dinastia Bourbon, que buscava modernizar o país seguindo modelos franceses, mas enfrentava crises políticas e econômicas. Goya cresceu em uma Espanha rural, mas desde cedo mostrou interesse pelo desenho e pela pintura.

Na juventude, estudou em Saragoça com o pintor José Luzán e, posteriormente, tentou ingressar na Academia de Belas Artes de San Fernando, em Madri. Embora tenha sido inicialmente rejeitado, viajou para a Itália em 1770, onde estudou arte clássica e desenvolveu um estilo próprio, combinando influências barrocas e rococó com observação direta da realidade.

De volta à Espanha, Goya começou a trabalhar como pintor de tapeçarias para a Real Fábrica de Santa Bárbara, criando cenas alegres e coloridas do cotidiano espanhol, conhecidas como cartones para tapices. Sua habilidade e popularidade o levaram a se tornar pintor da corte de Carlos III e, mais tarde, de Carlos IV. Durante esse período, produziu retratos marcantes como A Família de Carlos IV (1800), onde retratou a realeza com realismo quase implacável.

A partir de 1792, após uma grave doença que o deixou surdo, Goya passou a adotar um estilo mais sombrio e introspectivo. Suas gravuras da série Los Caprichos (1799) criticavam a superstição, a corrupção e os vícios da sociedade espanhola. Durante a Guerra da Independência Espanhola (1808–1814), contra a invasão napoleônica, Goya testemunhou massacres e brutalidades, registrando-os em obras como O 3 de Maio de 1808 (1814) e na série de gravuras Os Desastres da Guerra.

Nos últimos anos, seu trabalho assumiu um tom ainda mais pessoal e perturbador, especialmente nas Pinturas Negras (c. 1819–1823), realizadas nas paredes de sua casa, a Quinta del Sordo. Obras como Saturno Devorando um Filho revelam sua visão pessimista sobre a condição humana. Em 1824, Goya exilou-se voluntariamente na França, vivendo em Bordeaux.

Francisco de Goya morreu em 16 de abril de 1828, aos 82 anos, provavelmente devido a complicações de saúde relacionadas à sua idade avançada. Foi sepultado em Bordeaux, e, décadas depois, seus restos foram trasladados para Madri — curiosamente, sem a cabeça, cujo desaparecimento permanece um mistério histórico.

Considerado o “pai da pintura moderna”, Goya foi um elo entre o classicismo e as vanguardas, influenciando artistas como Manet e Picasso. Sua obra combina maestria técnica, observação aguda e coragem para desafiar convenções políticas e sociais.

_______

Referências

Museo del Prado. “Francisco de Goya – Biografía.” Disponível em: https://www.museodelprado.es.

Hughes, Robert. Goya. Knopf, 2003.

Glendinning, Nigel. Goya and His Critics. Yale University Press, 1977.

Wilson-Bareau, Juliet. Goya: Truth and Fantasy. National Gallery Publications, 1994.

Tags:

No responses yet

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Últimos comentários
Nenhum comentário para mostrar.